O IBGE divulgou 6ª-feira o IPCA-15 de agosto, que registrou alta mensal no período de 0,28%, acima do esperado pelo mercado (0,17%) e revertendo a deflação marginal de 0,07% reportado em julho.
No acumulado em 12 meses, o IPCA voltou a registrar aceleração, saltando de 3,19% em julho para 4,24% em agosto. Dessa forma, encerrou uma sequência de treze meses seguidos de desaceleração. O resultado de agosto nessa base de comparação também ficou acima do esperado pelos analistas (4,13%).
No acumulado do ano de 2023 registrou alta de 3,38% até o oitavo mês do ano.
Entre os nove grupos pesquisados pelo IBGE, sete registraram alta na variação mensal. Os grupos que tiveram os maiores impactos inflacionários em agosto foram Habitação e Saúde e cuidados pessoais.
O grupo Habitação teve o maior impacto de alta dos preços, ao registrar forte alta mensal de 1,08% e impacto de 0,16 p.p. sobre o índice geral.
Dentro desse grupo, o item que gerou o maior impacto inflacionário foi energia elétrica residencial, com forte alta mensal de 4,59% e impacto de 0,18 p.p. sobre o índice geral. Essa forte pressão inflacionária ocorreu por conta do fim da incorporação do Bônus de Itaipu,
creditado nas faturas emitidas no mês anterior. Além disso, reajustes foram aplicados em três áreas de abrangência do índice: Curitiba (9,68%), Porto Alegre (5,44%), e São Paulo (4,21%).
Ainda no grupo Habitação, também foi registrado alta de 0,2% na taxa de água e esgoto, ajudando na pressão inflacionária de agosto.
O grupo Saúde e cuidados pessoais registrou alta mensal de 0,81% no oitavo mês do ano. Dentro desse grupo a maior pressão de alta nos preços veio de higiene pessoal, que subiu 1,59% em agosto após deflação de 0,71% em julho. Os subitens que impulsionaram higiene pessoal foram: produtos para pele (8,57%) e dos perfumes (2,94%). Esses dois subitens haviam registrado deflação de 4,32% e 1,90% em julho, respectivamente.
Os outros cinco grupos que também reportaram inflação no oitavo mês do ano foram: Artigos de residência (0,01% e impacto de 0,00 p.p.), Transportes (0,23% e impacto de 0,05 p.p.), Despesas pessoais (0,60% e impacto de 0,06 p.p.), Educação (0,71% e impacto de 0,04 p.p.) e Comunicação (0,04% e impacto de 0,00 p.p.).
Dois grupos registraram deflação mensal em agosto, sendo alimentação e bebidas a reportar a maior variação negativa, com queda de 0,65% e impacto de -0,14 ponto percentual. Em junho e julho, esse grupo havia reportado deflação de 0,51% e 0,40%, respectivamente.
Dentro do grupo Alimentação e bebidas, a maior pressão de baixa no preço veio do item alimentação no domicílio (-0,99%), refletindo as quedas nos valores dos seguintes subitens: batata-inglesa (-12,68%), tomate (-5,60%), frango em pedaços (-3,66%), leite longa vida (-2,40%) e carnes (-1,44%).
Na ponta contrária, o item alimentação fora do domicílio registrou alta mensal de 0,22%, refletindo o aumento de 0,35% na refeição e 0,14% nos lanches.
O segundo grupo a registrar deflação foi Vestuário, com leve queda de 0,03% e impacto de 0,00 ponto percentual.
No início de agosto, o Copom decidiu cortar a taxa Selic em 0,5 p.p., surpreendendo o mercado que esperava uma queda mais conservadora de 0,25 ponto percentual. Diante da surpresa, os investidores passaram a especular se a autoridade monetária brasileira não poderia vir acelerar o ritmo de corte de juros nas últimas reuniões de 2023.
Porém, o resultado do IPCA-15 de agosto superando a projeção do mercado, reforça a visão do próprio Copom, que escreveu explicitamente no comunicado e na ata, que deverá manter o ritmo de queda da taxa Selic em 0,5 p.p. nas três últimas reuniões desse ano. Dessa forma, a taxa de juros no Brasil deverá encerrar esse ano em 11,75%.
Para que houvesse espaço para uma aceleração no ritmo do corte de juros, os números de inflação teriam que vir razoavelmente abaixo do esperado, algo que não ocorreu na prévia inflacionária desse mês.
O resultado do IPCA-15 ajuda a trazer pressão de baixa ao dólar na manhã dessa sexta-feira, pois afasta o risco de aceleração no ritmo de corte de juros nas próximas decisões da autoridade monetária brasileira.
Porém, a queda da moeda norte-americana é limitada pela cautela antes da fala do presidente do Fed, Jerome Powell, marcada para hoje às 11:05 (horário de Brasília) no simpósio anual de Jackson Hole. Após a divulgação do número de IPCA-15, o dólar comercial bateu a mínima do dia a R$ 4,8580. Agora opera em leve baixa de 0,06%, cotado a R$ 4,8770.
Nas últimas duas semanas, o mercado precificou uma falta de trigo e milho que ainda os números não confirmam. Os fundos compraram na semana do dia 25 de julho mais de 73 mil contratos de milho, 15 mil de trigo e 9 mil contratos de óleo de soja, apostando que a redução dos volumes exportáveis da Ucrânia traria uma escassez abrupta no mercado.
Até a semana passada, os números da Ucrânia ainda indicavam crescimento das exportações de farelo de colza, cevada, milho e óleo de girassol. Falando apenas do milho e trigo, a falta da Ucrânia não será sentida tão cedo.
A Ucrânia não está fazendo falta agora. Olhando apenas o milho, os embarques da Ucrânia caíram de 1,75 milhão de toneladas em junho para 500 mil toneladas em julho – até dia 26. A queda da Ucrânia foi compensada pelo crescimento da Argentina e do Brasil principalmente. Em junho a Argentina e o Brasil embarcaram juntos 2,7 milhões de toneladas e 7,2 milhões em julho. O crescimento da Argentina e do Brasil também compensou a perda de ritmo dos EUA – embarques de 3,45 milhões em junho e 1,52 milhões de toneladas em julho (até o dia 20).
Os maiores exportadores: Somando os quatro maiores exportadores de milho, os embarques em julho cresceram 1,2 milhões de toneladas. Para agosto os embarques da Ucrânia e dos EUA devem seguir baixos, mas da Argentina e do Brasil devem seguir crescendo. O Maiz Dollar na Argentina atraiu quase 5 milhões de toneladas em duas semanas, milho que será embarcado em agosto e setembro. Traders na Argentina acreditam que o Maiz Dollar deverá trazer para o mercado 8-10 milhões de toneladas de milho para embarques curtos. No Brasil as nomeações de milho estão em 9,3 milhões de toneladas, sendo que grande parte para agosto. O Brasil ainda precisa vender na exportação algo perto de 28 a 31 milhões de toneladas para a janela de outubro a
final de fevereiro. Os EUA ainda precisam vender na exportação 50 milhões de toneladas, grão que deve entrar com mais força a partir da janela fevereiro. Ainda há muito milho para entrar no mercado, o que continua mantendo os compradores sempre muito no spot.
Olhando o histórico: Quando se olha para trás, os embarques de milho dos quatro maiores exportadores estão muito menores. Entre janeiro e julho do ano passado os embarques somados de Argentina, Brasil, os EUA e Ucrânia foram de 77,4 milhões de toneladas, o maior dos últimos 5 anos. Esse ano os embarques somados estão em 58,4 milhões, o menor desde 2020, ano de forte quebra de safra no Brasil.
Veja que em relação à média para a janela janeiro a junho dos últimos 5 anos, todos as origens caíram, com exceção do Brasil. Se os embarques foram menores, isso quer dizer que há menos milho? Essa é uma pergunta importante. Tomando os dados do USDA, pode-se ver que não. Os estoques de milho combinados na temporada 2018-19 eram de 65 milhões de toneladas, caindo para 37,5 milhões em 2020-21, voltando a subir para 46,5 milhões na temporada 2022-23. Para a temporada 2023-24, o estoque estimado é de 67 milhões, superando os níveis de 2018-19. Importante também olhar onde estão os estoques. Os estoques de Argentina e Ucrânia praticamente não se alteraram, sempre entre 2% a 3% dos estoques combinados. Já os estoques do Brasil e dos EUA variam muito. Em 2018-19 o Brasil representava 13,8% dos estoques combinados e os EUA 80,4%. Para 2022-23 o Brasil representa 17,2% e os EUA 76,6%. Para 2023-24, o USDA projeta que o Brasil vai cair para 10% e os EUA irão subir para quase 86%. Isso quer dizer que o Brasil vai produzir mais e vai exportar mais, em detrimento dos EUA, que irão produzir mais, mas irão exportar menos proporcionalmente ao crescimento da produção – negativo para o flat price local. Para isso, o Brasil precisa seguir barato, pelo menos mais barato que os EUA. Essa é a grande expectativa do mercado, crescimento de produção no Brasil acima de sua capacidade de armazenagem e escoamento, o que em certos momentos obriga o produtor a vender até abaixo do custo de produção, a exemplo dessa safra.
Os novos desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia e o fim da Iniciativa de Grãos do Mar Negro, que promoveu a navegação segura dos navios com grãos ucranianos por quase 12 meses, causaram novas tensões sobre a oferta global de trigo, refletindo em uma forte volatilidade dos preços nas últimas semanas.
A volatilidade está muito forte (ver fig. 3 no anexo). Depois do encerramento do corredor e ataques da Rússia aos portos da Ucrânia, o trigo em Chicago chegou a subir mais de 15% em apenas cinco sessões. O fato é que as exportações de trigo da Rússia mais que anula a redução da Ucrânia, trazendo os mesmos níveis antes dos ataques. Três drivers principais: a) O fim do acordo já estava sendo precificado algumas semanas antes, já que a Rússia fez consecutivas ameaças ao corredor desde a sua última renovação em maio; b) Diante disso, os países importadores já haviam se preparado com suas aquisições, de forma a proteger-se das eventuais restrições na oferta e alta dos preços; c) Os países do Hemisfério Norte logo darão início à colheita. Não há falta de trigo neste momento, diferente de quando a guerra se iniciou em 2022, durante a entressafra desta região. Essa pouca urgência nas compras de trigo pôde ser confirmada pelo fraco ritmo de vendas de exportação dos EUA. A figura 4 mostra esse cenário. Na semana seguinte ao fim do corredor de grãos, acreditava-se que a demanda internacional migraria para outros players, como EUA e UE, o que não aconteceu até agora. Mesmo com os ataques da Rússia aos portos ucranianos e ameaças por ambos os países em tratar os navios comerciais como inimigos, ao que parece, as exportações de grãos da Rússia e Ucrânia continuam ocorrendo.
A Ucrânia vem fortalecendo sua parceria com países vizinhos, como Romênia e Croácia, melhorando sua capacidade de escoamento pelas rotas alternativas via Rio Danúbio, ferrovia e rotas terrestres. Já a Rússia, segue exportando normalmente, participando de licitações de compra de trigo a preços muito competitivos entregues no destino. Isso quer dizer que, mesmo com os rumores sobre aumentos nos custos de frete marítimo e seguros para a região, o trigo russo ainda é o mais barato do mundo, com uma larga vantagem sobre os demais, o que se deve ao preço FOB e também à proximidade e fretes mais baratos. A tabela mostra os embarques dos maiores exportadores entre janeiro e junho. Como se pode ver, o total aumentou 3 milhões de toneladas em relação ao ano passado, sendo que todos os exportadores reduziram volumes, com exceção da Rússia e Austrália. Veja que a Ucrânia ficou praticamente igual.
No caso do trigo, a principal preocupação é o ritmo de embarques de trigo da Rússia, maior exportador global com 22% do total do comércio global. Contudo, o que se viu nos últimos meses, é que mesmo com as sanções aplicadas pelo Ocidente, a Rússia conseguiu aumentar suas exportações em quase 70% em relação à média de 5 anos, tomando mercado de todos os demais exportadores.
Dessa forma, é possível notar que a Rússia não só continua sendo a origem mais barata para o trigo, mas conseguiu compensar a redução no nível exportável de outros países, por ter atualmente uma grande oferta do suprimento e preços baixos.
Os impactos da forte competitividade dos preços do trigo russo, podem ser vistos no menor ritmo de exportação de trigo dos EUA durante as temporadas 22/23 e 23/24 – o mais fraco ritmo em 20 anos. A figura 4, mostra os embarques semanais de trigo americano nos últimos meses (linha preta) e a área cinza do gráfico, apresenta a média semanal dos últimos três anos. Em boa parte dos últimos 12 meses, os EUA exportaram níveis muito abaixo da média, mantendo os estoques em níveis confortáveis apesar da redução da produtividade.
A conclusão que se chega é que, enquanto a Rússia continuar exportando trigo, o cenário de preços segue baixista, já que seus preços seguem muito descolados em relação aos demais players. Atualmente o trigo hard americano é US$ 86/t mais caro que o trigo russo com 12,5% de proteína.
LOGÍSTICA E INFRAESTRUTURA
“O primeiro navio passou pelo novo corredor de grãos após a saída da Rússia do Acordo de Grãos” – Zelenskyi.
Estamos abordando a questão do navio porta-contêineres JOSEPH SCHULTE, que partiu do porto de Odesa em 16 de agosto. Este navio ficou retido em um porto ucraniano desde o início da invasão em larga escala.
Recentemente, a Ucrânia oficialmente notificou a Organização Marítima Internacional sobre a operação do corredor marítimo. Importante mencionar que uma nova rota temporária para embarcações foi estabelecida em 8 de agosto. Somente navios cujos proprietários e capitães confirmam oficialmente sua disposição de navegar em meio a ameaças militares são autorizados a utilizar essas novas rotas.
O JOSEPH SCHULTE, um navio porta-contêineres com bandeira de Hong Kong, é o primeiro navio a deixar os portos ucranianos após o término do acordo de cereais. Notícias da Reuters relatam que a embarcação chegou à Turquia. De acordo com fontes, em 18 de agosto, o navio estava atravessando o Estreito de Bósforo. Informações posteriores da imprensa turca esclareceram que o JOSEPH SCHULTE estava programado para ancorar no porto de Ambarli, ao sul de Istambul.
A principal prioridade da Ucrânia em relação ao funcionamento do “corredor de grãos” temporário é garantir a segurança das embarcações e das tripulações, conforme declarado por Taras Vysotskyi, Primeiro Vice-Ministro da Política Agrícola.
Neste ano, a Ucrânia alocou 20 bilhões de UAH no orçamento do Estado para o seguro de navios destinados a exportar produtos agrícolas dos portos do Mar Negro.
“Passo a passo, a Ucrânia está fazendo todo o possível com base em seus recursos para garantir a exportação de produtos agrícolas ucranianos através do Mar Negro.”
Surgem preocupações em relação aos desafios associados à exportação de grãos por meio de corredores temporários no Mar Negro. Recentemente, foram colocados em funcionamento os “corredores temporários” no Mar Negro, permitindo a passagem segura de embarcações civis do Bósforo aos portos da Grande Odesa, através das águas territoriais de nações parceiras da Ucrânia. Contudo, subsistem algumas áreas de risco que merecem atenção.
Essa avaliação foi apresentada por Mykola Gorbachev, presidente da Associação Ucraniana de Grãos (UGA).
“Tenho certeza de que os ‘corredores temporários’ podem e vão funcionar, mas existem outros riscos nesse esquema. Em particular, leva pelo menos dois a três dias para carregar um navio nos portos da Grande Odesa. Se a infraestrutura portuária for novamente atingida por ataques inimigos nesse momento, há o risco de danificar navios e cargas. E embora a Ucrânia tenha introduzido um mecanismo de compensação por perdas, não tenho certeza de que muitos armadores estejam prontos para passar pelos ‘corredores temporários'”, explicou.
Dessa forma, de acordo com o especialista, seria apropriado que a comunidade internacional se dedicasse a aprimorar os procedimentos de proteção para embarcações nos “corredores temporários”. Uma abordagem sugerida seria a implementação de escoltas militares para as embarcações civis, potencialmente envolvendo navios da OTAN. Isso garantiria uma resposta efetiva a possíveis ameaças, incluindo ataques de mísseis direcionados à infraestrutura portuária.
A utilização de aeronaves F-16 em rotação de prontidão também se destacaria como uma solução crucial para garantir a segurança na região do Mar Negro. Essas aeronaves têm a capacidade de detectar e reagir instantaneamente a ameaças de mísseis, fortalecendo consideravelmente a proteção da área.
“Estou certo de que a comunidade internacional encontrará alavancas de influência sobre a Rússia que permitirão a livre navegação no Mar Negro, porque este não pertence à Federação Russa e suas reivindicações não se correlacionam com a posição da Turquia e de outros países da NATO nesta região. Consultas e negociações também estão em andamento com a China, o principal comprador de grãos ucranianos no âmbito do ‘acordo de grãos'”, acrescentou Horbachev.
Dessa forma, de acordo com o especialista, seria apropriado que a comunidade internacional se dedicasse a aprimorar os procedimentos de proteção para embarcações nos “corredores temporários”. Uma abordagem sugerida seria a implementação de escoltas militares para as embarcações civis, potencialmente envolvendo navios da OTAN. Isso garantiria uma resposta efetiva a possíveis ameaças, incluindo ataques de mísseis direcionados à infraestrutura portuária.
A utilização de aeronaves F-16 em rotação de prontidão também se destacaria como uma solução crucial para garantir a segurança na região do Mar Negro. Essas aeronaves têm a capacidade de detectar e reagir instantaneamente a ameaças de mísseis, fortalecendo consideravelmente a proteção da área.
Na quarta-feira, os futuros do trigo registraram uma sessão de forte alta na CBOT, diante de um novo ataque russo ao porto de Izmail, na região do Danúbio. Segundo o vice-primeiro-ministro da Ucrânia, Oleksandr Kubrakov, os bombardeios reduziram em 15% a capacidade de exportação do porto e que 13 mil toneladas de grãos foram destruídas. Os grãos tinham destino ao Egito.
Entretanto nas últimas sessões, o trigo voltou a operar em suas mínimas dez/2020. Apesar das preocupações com os conflitos entre Rússia e Ucrânia, tornando os preços altamente voláteis, as cotações parecem não estar encontrando espaço para recuperação.
Pelo contrário, no curto prazo, as perspectivas ainda são de mais pressão nos preços por alguns motivos: a) Ucrânia em busca de um novo corredor de grãos alternativo; b) Turquia buscando convencer Vladmir Putin a retomar o acordo de grãos do Mar Negro; c) Rússia prestes a colher sua 2ª maior safra de trigo, de 92 Mi de t; d) Colheita de milho prestes a iniciar nos EUA, o que pode pressionar o milho e puxar o trigo para baixo na CBOT;
Existem dois fatores que ainda continuam atuando como um suporte especulativo sobre os preços do trigo: Os desdobramentos no Mar Negro e o clima.
Quando os ataques da Rússia ou da Ucrânia acontecem sobre as instalações portuárias na região do Danúbio e Mar Negro, as tensões são renovadas, diante das incertezas sobre a capacidade de escoamento de ambos os países.
Para o trigo, o protagonismo fica por conta das exportações da Rússia, maior produtor e exportador global do cereal e que para 2023/24, possui um saldo exportável de quase 50 Mi de t.
Já o clima, é mais sensível para as lavouras de trigo do Hemisfério Sul. Temos um El Niño adiante, que já está causando efeitos negativos ao redor do globo. No caso do Hemisfério Norte, o calor e seca já reduziu o potencial produtivo de trigo do Canadá e União Europeia.
Em contrapartida, essas quedas foram compensadas pelo forte aumento na produção da Rússia, que deve vir bem acima do esperado. Enquanto o USDA prevê uma produção de 85 Mi de t, a consultoria SovEcon, que atua na região do Mar Negro, elevou suas projeções esta semana para 92,1 Mi de t.
Por outro lado, a colheita do Hemisfério Sul, mais especificamente na América do Sul (BR+ARG), pode sofrer impactos pelas precipitações abundantes no verão, podendo causar redução nos rendimentos e queda na qualidade. Ou seja, veríamos novamente a produção de trigo feed aumentando e novas restrições na oferta de trigo alimentar, bom para moagem.
Este cenário, inclusive, já é um problema enfrentando pelos EUA, parte da Europa e China. Nos EUA, a seca quebrou a safra de trigo de inverno, já na China e UE (principalmente na Alemanha e França), os dois principais produtores do bloco, relataram fortes chuvas recentes, que diminuíram drasticamente a qualidade do grão.
Apesar de todo o quadro esboçado acima, hoje, a demanda global de trigo ainda está enfraquecida perante ao fortalecimento do dólar ante as moedas emergentes, especialmente para os países importadores, como o Egito, por exemplo.
Outra questão que ficou clara com os preços em níveis recordes no ano passado, é que os compradores intenacionais não conseguem sustentar uma demanda com trigo acima dos US$ 8/bushel.
Dessa forma, os EUA continuam com um fraco ritmo em suas exportações do cereal, ficando quase 30% abaixo dos níveis registrados na mesma época do ano passado, considerando o acumulado de 1º de junho até agora. O gráfico abaixo apresenta essa queda no ritmo das vendas de exportação, com os níveis atuais ficando abaixo da média dos últimos três anos.
Além de um consumo desacelerado, a Rússia continua muito competitiva na exportação, ampliando o seu fornecimento de trigo aos países importadores, enquanto outros players, como União Europeia e EUA, reduziram fortemente seu share na exportação global de trigo. Para se ter ideia, em julho, a Rússia forneceu mais trigo ao Brasil, do que a própria Argentina. Algo que não acontecia desde 2014, quando o país vizinho forneceu menos trigo que os EUA.
Ao avaliarmos os preços de exportação, a Rússia continua muito barata e dispondo de muita oferta do cereal. Dessa forma, a perspectiva de uma recuperação nos preços ficaria mais clara, somente quando a Rússia diminuir sua oferta do cereal na exportação, que se não vier de uma forma súbita provocada pelo conflito com a Ucrânia, poderia ocorrer somente na primeira metade do ano que vem, quando o clima de intenso inverno, acaba diminuindo as operações portuárias na região do Mar Negro. Este período também concentra a janela de entressafra do Hemisfério Norte, o que pode ser, portanto, uma luz no fim do túnel.
O farelo de soja voltou a se fortalecer na última semana, subindo cerca de 5%.
Na última semana o mercado adicionou um prêmio de risco aos preços do complexo da soja por conta das previsões climáticas negativas para as próximas semanas. A soja está 100% em fase de enchimento de grãos, fase crítica para o rendimento da produção. Até a primeira quinzena de agosto o clima estava favorável, com chuvas e temperatura dentro
da média, porém na última semana as projeções mudaram mostrando temperaturas extremas, próximas de 40 graus, e chuvas abaixo da média para o período de até a primeira semana de setembro.
REDUÇÃO DA OFERTA
Não é novidade para ninguém que a Argentina reduzirá o volume de esmagamento neste ano devido a drástica quebra da produção da soja por lá. Porém os números mostram que o que já estava ruim pode piorar. A margem de esmagamento argentina com soja importada atingiu -50 U$/ton, desincentivando a importação. No mercado interno, estimasse que existam hoje cerca de 8 milhões de toneladas disponíveis para a venda, 95% disso na mão dos produtores, que devido a situação interna caótica da economia, não querem se desfazer de seu único ativo dolarizado. A situação piorou ainda mais quando o banco central argentino desvalorizou o peso oficial em AR$ 50 por dólar, como reflexo o câmbio paralelo (blue) se desvalorizou 125 AR$ por dólar, atingindo o pico de AR$ 725 e agora gira em torno de AR$ 710.
Este movimento afundou ainda mais qualquer expectativa que o mercado tinha de que essa soja em mãos dos produtores viria para o mercado, reduzindo ainda mais as expectativas de esmagamento até o final do ano e consequentemente a oferta do farelo de soja. Como consequência, na última terça-feira os Estados Unidos anunciaram uma venda atípica para o período de 100 mil toneladas de farelo de soja, sazonalmente a demanda deve se concentrar na América do Sul agora, e se o mercado já está buscando farelo nos EUA a falta de farelo na Argentina já está sendo sentida. Os prêmios do farelo por lá já estão mais altos, cerca de 50 U$/st acima de Cbot e já vem suportando os prêmios do Brasil que subiram cerca de 10 U$/st na semana, saindo de +22 para +32 no vencimento outubro.
Dados do dia 14 de Agosto
Após ter saído dos US$ 278/t em meados de junho e alcançado os US$ 440/t no início de agosto, ou seja, acumulando um aumento de 58% em menos de dois meses, na última semana as cotações da ureia CFR Brasil voltaram a recuar. Os preços do nitrogenado pairaram em torno de US$ 420/t CFR, resultando em uma queda de aproximadamente 4,5% em sete dias. Até mesmo na sexta-feira, as cotações do fertilizante já eram vistas na faixa de US$ 405/t CFR Brasil. O movimento de queda foi influenciado pelos desdobramentos do tender indiano (detalhes na página 04). Assim como no Brasil, em outras localidades a derrocada também foi expressiva. As cotações da ureia FOB Egito, negociadas no mercado futuro, encerraram a última semana perto de US$ 400/t, em comparação com os US$ 450/t do início de agosto.
Ainda em relação ao país do norte da África, o governo egípcio informou que as empresas produtoras de fertilizantes nitrogenados poderão retomar a produção por completo. Lembrando que no mês passado, as empresas locais receberam uma solicitação para reduzir a produção em 30%, visando direcionar o gás natural para o consumo doméstico. Contudo, os produtores ainda seguem cautelosos em relação às retomadas. Analisando outros locais, os preços da ureia FOB Irã estão na faixa de US$ 390/t, e na China as cotações da ureia também recuaram nos últimos dias. No mercado doméstico brasileiro, os preços ainda não demonstraram reações às quedas no mercado internacional. As cotações no porto de Paraguá pairam entre US$ 500-510/t FOB, enquanto no interior os preços em reais por tonelada ainda permanecem superiores a R$ 2.500/t. Caso as quedas persistam no mercado internacional, é provável que os preços para os produtores rurais brasileiros sejam reajustados para baixo nas próximas semanas. Quanto ao sulfato de amônio, as cotações também tiveram uma queda. Os preços do fertilizante nitrogenado CFR Brasil situaram-se na faixa de US$ 215/t, em comparação com os US$ 220-225/t da primeira semana do mês de agosto. Por fim, em relação ao nitrato de amônio, as cotações ainda permanecem acima de US$ 320/t CFR Brasil, no entanto, houve negociações a US$ 350/t CFR.
Diferentemente dos nitrogenados, as cotações dos fosfatados seguem em alta. Os preços do MAP CFR Brasil alcançaram a marca de US$ 530/t na semana passada. Ou seja, de meados de junho até o momento, os preços do fertilizante subiram US$ 100/t. Assim como no Brasil, as cotações no maior produtor do mundo de fósforo também estão em alta. Os preços do DAP FOB China já estão próximos de US$ 540/t, ou seja, houve uma alta de 27% nas cotações nos últimos 30 dias. Cabe pontuar que, no começo do mês passado, enquanto as cotações dos fosfatados subiam no Brasil, no gigante asiático os preços ainda davam sinais de enfraquecimento. Nesse momento, os valores do DAP chinês já superam o MAP CFR Brasil. Na Índia, o movimento também é de alta, com os preços ficando entre US$ 540-545/t CFR. Ainda sobre os desdobramentos na Ásia, alguns traders comentam que a disponibilidade de MAP chinês está reduzida, diferentemente do que era observado no primeiro trimestre do ano. Além disso, recentemente, os preços do enxofre na China tiveram incrementos, o que encarece o custo de fabricação de fosfatados. Por fim, no mercado doméstico brasileiro, o sentimento de escassez continua presente no curto prazo. As cotações do MAP FOB Paranaguá ficam entre US$ 580-590/t. No interior, as cotações superam R$ 3.100/t. Quanto ao superfosfato simples, os preços estão na casa de US$ 240/t CFR, e o superfosfato triplo paira em US$ 420/t CFR Brasil.
As cotações do cloreto de potássio tiveram uma leve queda de US$ 5,0/t na última semana e ficaram próximas de US$ 350/t CFR Brasil. Os preços do fertilizante têm se mostrado mais estáveis nos últimos tempos. Um ponto importante foi a negociação envolvendo a Uralkali e a companhia indiana NFL, na qual foram adquiridas 100 mil toneladas de KCl standard a US$ 319/t CFR com prazo de pagamento em 180 dias. As cotações do KCl destinado à safra de soja 2024-25 estão sendo oferecidas na faixa de US$ 500/t FOB Rondonópolis. Vale ressaltar que, em meados de junho, as cotações desse fertilizante chegaram a ser negociadas entre US$ 420-430/t, para 2023-24.
El Niño: A anomalia da temperatura na região 3.4 continua subindo, conforme os modelos já vinham projetando. Os modelos estão projetando anomalia de +2,6 °C em Dezembro.
Vai voltar a ficar muito quente nos EUA para os próximos 15 dias. Poucas chuvas previstas para todo Meio Oeste e Planícies. Há duas consequências importantes:
– A elevação da produtividade da soja para o relatório de setembro não deve ocorrer. O mercado dava essa possibilidade como certa. A melhora nas condições das lavouras na semana do dia 13 reforçou essa ideia. Mais reduções na produtividade da soja podem trazer os estoques americanos para níveis perigosos, o que demandaria racionamento;
– O Rio Mississippi continua perdendo profundidade e largura. Esse fundamento pode levar mais demanda para o Brasil, reforçando o cenário de programa de exportação de 100 milhões de toneladas;
Argentina: Modelos mostram que as chuvas não devem se firmar em outubro, período de plantio do milho 1ª Campanha, o milho mais produtivo da Argentina
Índia: A Índia vai ter o Agosto mais seco em mais de 100 anos. As Monções em julho já ficaram abaixo do normal e para a agosto deve se repetir o padrão. Até o dia 17, as regiões produtoras de grãos receberam 70% do volume normal para um mês de agosto. Impactos:
– Esse é ano de eleição na Índia, colocando como prioridade do atual 1º Ministro, Narendra Modi, o controle dos preços de alimentos. A inflação de alimentos não para de subir na Índia, o maior risco político de qualquer político na Índia. Barreiras à exportação de alimentos são ferramentas conhecidas dos políticos indianos;
Europa: Nova onda de calor pode trazer mais estresse para o milho e demais culturas de primavera. A Espanha é um grande importador de milho, sendo que seu maior fornecedor é a Ucrânia
Foram destaques dessa semana: Inflação de alimentos, lavouras americanas e a logística brasileira.
O El Niño vai mostrando seus sinais. A inflação na Índia está subindo, forçando muitos a mudar seus hábitos. A cebola, o trigo, o açúcar, os pulses (grão-de-bico, lentilha e ervilha) e o tomate estão subindo. As monções estão em 70% do normal, menor marcar desde 1906. O McDonalds e o Subway tiraram o tomate do menu. O governo vai distribuir tickets de alimentação para a população mais pobre até dezembro. O problema é que as monções só voltam em julho do próximo ano e esse é um ano de eleição. O gasto do governo vai aumentar e as receitas irão cair. Além disso, tem cientista do clima falando em possibilidade de dois anos seguidos de El Niño. Além de distribuir dinheiro, o governo barrou a exportação de cebola e limitou a
exportação de tipos de arroz e açúcar. Também está estudando a importação de trigo – a Índia é exportador de trigo. A Índia está buscando pulses, mas não há muito disponível no mercado. Para o Brasil isso tudo pode trazer mais inflação também. O arroz brasileiro não é competitivo, somente quando os preços lá fora sobem muito. O lineup de arroz em Rio Grande está crescendo. Na falta de ervilha e lentilha, a Índia deve comprar mais o feijão caupi. O Brasil é exportador.
O El Niño também está trazendo outros impactos. Europa com onda de calor, forçando as consultorias a revisarem para baixo as produtividades de milho e colza. O lado bom é que a proteína do trigo vai ser mais alta. A Espanha certamente terá que importar mais milho. A Ucrânia é seu maior fornecedor, depois o Brasil. Ontem os futuros da aveia na CME bateram limite de alta. A aveia é plantada no Norte dos EUA e está sofrendo com o calor forte. Isso me diz que a soja lá também deve estar sofrendo. O Canadá também planta aveia e exporta mais de 1,5 milhão de toneladas por ano para os EUA. Se a safra deles quebrar, a bacia leiteira em Minnesota terá que consumir mais milho (silagem). Nos EUA o crop tour também mostrou os efeitos de um ano mais quente que o normal. A Pro Farmer fechou os sete estados com um score final de produtividade abaixo da média de 3 anos para o milho em Iowa e Illinois, estados que representam 1/3 da produção. Para a soja a contagem de vagens ficou levemente acima, provavelmente devido ao clima mais benéfico no final de julho para agosto. A onda de calor dos próximos 10 dias e zero chuvas vai cobrar seu pedágio? Muito calor nessa fase pode trazer vagens vazias e grãos mal formados, o que vai refletir no peso. O NASS utiliza para sua estimativa de produtividade de setembro não só a contagem de vagens, mas também o peso. Eu diria que o relatório de condições nessa 2ª-feira e na próxima serão muito importantes para calibrar as estimativas para o relatório de O&D de setembro, quando o NASS vai também divulgar sua 2ª revisão na área. No ano passado, o USDA cortou a área e a produtividade em setembro, derrubando os estoques americanos de soja para 200 milhões de bushels. No dia do relatório, o mercado subiu 70 centavos por bushel. Naquele momento o produtor americano vendeu, além da CBOT mais alta, os basis nos EUA também estavam mais altos. Esse ano a CBOT está por volta de $1,0 mais baixo e os basis 40 centavos mais baixos em Illinois. Certamente que o produtor americano está esperando esse relatório para avançar nas vendas porque está atrasado e porque não vale a pena vender o milho – a relação X23 vs Z23 está em 2,83, a maior para esses dois contratos. Essa decisão pode aumentar a vantagem dos EUA como a origem mais competitiva para a janela OND, mantendo o fluxo de venda – hoje os EUA estão mais baratos que o Brasil em 10-15 centavos por bushel. Para 2024 a relação está em 2,57, o que me diz que se ficar assim a área do milho cai e da soja cresce para 2024/25.
A logística brasileira também é destaque. Alguns pontos que me chamaram atenção essa semana: 1) as nomeações de soja no Porto de Paranaguá continuam crescendo. No dia 21 de julho as nomeações de soja em Paranaguá estavam em 3,6 milhões de toneladas. No dia 21 desse mês as nomeações chegaram em 4,6 milhões. O waiting time de Paranaguá está em 46 dias, aumentou 3 dias na semana. Quem vende um barco em Paranaguá para outubro sabe que o BL vai sair como dezembro. Para o milho isso é um problema para quem vendeu no interior. Só vai começar a receber cotas de caminhões no final de novembro. Ouvi que grandes consumidores internos compraram 1 milhão de toneladas de milho de cooperativas no Paraná. Mesmo assim, o Paraná e o MS não contarem com o escoamento de Paranaguá vai ser um grande transtorno; 2) produtores e cooperativas no Oeste do MT e Rondônia já estão falando que as tradings em Porto Velho não estão comprando soja somente para embarque de abril para frente. Quem precisa de embarque fevereiro vai sofrer grandes pênaltis. Mas isso já deixa claro que a pressão logística no Arco Norte. A transição do milho para a soja será rápida, o que vai deixar o milho nessa região sem comprador. Normalmente os produtores nessa região vendem milho para os pecuaristas, o que nesse ano certamente será um volume muito menor. Não sei se devido a essa logística já tomada, mas nessa semana vimos negócios no CFR China a +15/+16/+17sk para embarque abril – 15 centavos acima do contrato maio. Esses níveis são muito baixos, abaixo do custo de reposição no FOB e no interior também. Além disso, a AMPA, associação Mato-Grossense dos produtores de Algodão, conseguiu mudar na lei a data do fim do vazio sanitário da soja no MT. Se chover, o Oeste do MT vai começar a plantar soja 15 dias antes do normal. Isso quer dizer que o MT vai ter soja antes do Natal. Isso muda muito coisa, desde a pressão de escoamento do milho, até o comportamento dos prêmios da soja em janeiro.
Rápidas da manhã: Bolsas de lado; na China as bolsas subiram também, mas encerram a semana em queda de 2% – 3ª semana seguida; IDX subindo, ouro caindo 0,3% e petróleo estável acima dos $80 o barril; o real é o destaque de valorização da semana; câmbio na China volta a subir, novamente acima dos 7,30; mercado atento ao encontro dos BC´s em Jackson Hole. Nesse 6ª-feira o presidente do Fed vai falar; dados de atividade na Europa e nos EUA dessa semana confirmam que a alta de juros está fazendo um grande estrago, reforçando a parada na alta de juros; futuros na CBOT em alta. Os números da Pro Farmer mostram produtividade do milho abaixo da média de 3 anos e contagem de vagens da soja acima nos estados de Ohio e Indiana, e abaixo nos estados da Dakota do Sul, Nebraska e Minnesota. Em Illinois e Iowa ficou quase igual à média de 3 anos.
O Banco Central divulgou na última segunda-feira a atualização das projeções das principais instituições financeiras do país para os indicadores macroeconômicos mais relevantes.
Para a semana encerrada no dia 18 de agosto, os analistas revisaram para cima as expectativas para o IPCA e a taxa cambial ao final desse ano. Já a expectativa para o PIB e taxa Selic ao final de 2023 foram mantidas inalteradas.
O destaque ficou para o aumento na projeção do IPCA desse ano, passando de 4,84% para 4,90%. Vale salientar, que essa elevação é a primeira nas últimas quatorze semanas.
A piora na expectativa inflacionária desse ano é fruto do reajuste no preço da gasolina e do óleo diesel anunciado pela Petrobrás na terça-feira, dia 15. O preço praticado pela companhia junto as distribuidoras tiveram aumento de 16,3% para a gasolina e de 25,83% para o diesel.
A estimativa para o dólar ao final desse ano sofreu uma alta marginal, subindo de R$ 4,93 para R$ 4,95, refletindo a piora do humor externo ao longo do mês de agosto.
A projeção para o PIB ficou estável em 2,29%, enquanto a expectativa para a taxa Selic ao final desse ano foi mantida em 11,75% pela segunda semana seguida. O tom do comunicado e da ata do Copom, sugerindo mais três quedas na taxa de juros do Brasil em 0,50 p.p., está em linha com a perspectiva de que a taxa Selic encerre 2023 em 11,75%.
Vendas acima do esperado para a safra velha de soja. Vendas de farelo continuam fortes.
DESTAQUES
Soja: As vendas para a safra velha foram revisadas para baixo na semana passada. Para essa semana as vendas para a safra velha ficaram acima do esperado. Novamente o destaque da safra velha foram os países da Europa. Para a safra velha, tradings americanas continuam exportando soja para suas plantas na Europa, voltando com o Biodiesel. Essa triangulação vem ficando mais comum para o aproveitamento do crédito do biodiesel nos EUA – a regra diz que a soja deve ser americana. O crescimento da importação de biodiesel pelos EUA está bem acima do normal, em especial da Alemanha e Países Baixos. Para a safra nova, a China e destinos desconhecidos compraram quase 1 milhão de toneladas, em linha com a expectativa de mercado de 28 barcos negociados na semana entre Brasil e os EUA. Agora a conta está mudando novamente. O Brasil está voltando a ficar mais caro para a janela OND em relação aos EUA, o que deve manter o bom ritmo de vendas semanais.
Farelo: As vendas de farelo para a safra nova estão crescendo bem. Os prêmios na América do Sul estão subindo. Argentina sem soja e o Brasil com margens negativas.
Milho: As vendas continuam fracas para ambas as safras. O milho americano continua dando conta apenas para seus compradores mais próximos.
Algodão: As vendas continuam muito fracas, um bom termômetro da fraca demanda global por bens de consumo. O programa americano de exportação de algodão está em 5,16 milhões de fardos, contra 7,4 milhões no ano passado nessa mesma época.
O programa de exportação brasileiro de soja embarcou até a terceira semana de agosto 5,37 milhões de toneladas. Em agosto de 2022 o total foi de 5,94 milhões de toneladas.
Em julho foram embarcadas 9,69 milhões de toneladas, o segundo melhor mês de julho da série histórica, ficando atrás apenas de 2020 quando foram embarcadas 9,95 milhões de toneladas. Estão nomeadas para agosto exportação de 2,63 milhões de toneladas, portanto, o comprometido para o mês é de 8,01 milhões de toneladas e o comprometido nos primeiros oito meses do ano é de 80,48 milhões de toneladas.
De janeiro a junho o Brasil embarcou para a China 50,42 milhões de toneladas, contra 42,98 milhões de toneladas na média dos últimos dois anos. Nesse mesmo período o Brasil embarcou 3,5 milhões de toneladas de soja para a Argentina, volume recorde – em todo o ano passado foram embarcadas para o país vizinho apenas 289 mil toneladas.
O programa de exportação brasileiro de milho embarcou nos primeiros 14 dias úteis de agosto 5,22 milhões de toneladas. Em agosto do ano passado o total foi de 7,44 milhões de toneladas.
Estão nomeadas para agosto exportação de 2,94 milhões de toneladas, portanto, o comprometido para o mês é de 8,16 milhões de toneladas. Se todo o nomeado for embarcado, o mês de agosto vai ser recorde. O comprometido de fevereiro a agosto é de 17,88 milhões de toneladas. A logística brasileira está lidando com dois grandes programas de exportação ao mesmo tempo, soja e milho, o que aumentou o tempo de espera principalmente no porto de Paranaguá, que saiu de 20 dias no início de julho para 46 dias agora.
No acumulado do ano, o Brasil embarcou para a China 1,27 milhão de toneladas do cereal. Somente em julho foram embarcadas 902,11 mil toneladas.
O programa de exportação de farelo de soja embarcou até a terceira semana de agosto 1,63 milhão de toneladas. No oitavo mês de 2022 o total foi de 1,81 milhão de toneladas.
O Brasil atinge recordes na exportação do farelo de soja após a Argentina sofrer a pior quebra da história, colhendo apenas 19 milhões de toneladas. Em julho foram embarcadas 2,20 milhões de toneladas, o melhor mês de julho da série histórica. Estão nomeadas para agosto exportação de 371 mil toneladas, portanto o comprometido para o mês é de 2 milhões de toneladas. Se todo o nomeado for embarcado, o mês de agosto vai ser recorde. O comprometido nos primeiros oito meses do ano é de 14,97 milhões de toneladas.
O programa de exportação de algodão embarcou até a terceira semana de agosto 75 mil toneladas. No mesmo mês de 2022 o total foi de 62,80 mil toneladas.
Julho apresenta os menores volumes embarcados da fibra natural, por conta do período de entressafra. No acumulado do ano, foram exportadas 572,20 mil toneladas, volume bem abaixo do esperado.
O principal destino do algodão brasileiro nessa temporada é Bangladesh, que comprou do Brasil 117,19 mil toneladas de janeiro a junho.
O programa de exportação de carne bovina embarcou nos primeiros 14 dias úteis 124,70 mil toneladas. Em agosto de 2022 o volume total foi de 202,23 mil toneladas.
Em julho foram embarcadas 202,23 mil toneladas, em linha com a média dos últimos três anos. No acumulado do ano foram exportadas 1,16 milhão de toneladas de carne bovina brasileira. No primeiro semestre a China comprou 604,81 mil toneladas, enquanto no mesmo período do ano passado o volume foi de 649,63 mil toneladas.
O programa de exportação de carne suína embarcou até a terceira semana de agosto 64,80 mil toneladas. No mesmo mês de 2022 o total foi de 113,60 mil toneladas.
No acumulado do ano foram embarcadas 739,9 mil toneladas, recorde na série histórica. No mesmo período do ano passado o volume embarcado foi de 587,30 mil toneladas. No primeiro semestre, a China comprou 252,89 mil toneladas da carne suína brasileira, volume 14,22% superior a 2022.
Brasil - Boletim Focus
EUA - Condição e Evolução das Lavouras – USDA
EUA - Preços dos imóveis – Case Shiller
EUA - Confiança Consumidor
EUA - Oferta de empregos JOLT’s
Zona do Euro - Confiança do Consumidor
Brasil - IGP-M
Brasil - Inflação às empresas
Brasil - Vagas de emprego – CAGED
EUA - ADP
EUA - Vendas Pendentes de Moradias
China - PMI Composto
Europa - Inflação ao Consumidor
Europa - Ata Reunião BCE
EUA - Pedidos Iniciais de
Auxílio-Desemprego
EUA - Inflação Gastos Pessoais PCE
EUA - Balanço do FED
EUA - Vendas Semanais – USDA
China - PMI Industrial
Zona do Euro - PMI Industrial
Brasil - PIB
Brasil - Produção Industrial
EUA - Payroll
EUA - PMI Industrial
Estrategista de Commodities
(41) 3094.0228
marcos@agrinvest.agr.br
Analista do Complexo da Soja
(41) 3094.0221
eduardo@agrinvest.agr.br
Analista Macro
(41) 3094.0220
thiago.davino@agrinvest.agr.br
Mercado de Trigo
(41) 3094.0357
guilia.zenidin@agrinvest.agr.br
Analista de Fertilizantes
(41) 3094.0229
jefersonsouza@agrinvest.agr.br
Analista do Complexo da Soja
(41) 3094.0200
guilherme.jacomini@agrinvest.agr.br
LIMITE DE ALTA: Os futuros da aveia bateram limite de alta ontem na CME. O calor e a falta de chuva no Norte dos EUA e nas grandes Planícies do Canadá explicam o movimento.
A aveia é plantada no Norte dos EUA e está sofrendo com o calor forte. Isso me diz que a soja e o trigo de primavera nessas regiões também devem estar sofrendo. O Canadá também planta aveia e exporta mais de 1,5 milhão de toneladas por ano para os EUA. Se a safra deles quebrar, a bacia leiteira em Minnesota terá que consumir mais milho (silagem).
SOJA É O DESTAQUE: Os futuros da soja na CBOT caminham para encerrar a semana com alta de 25 centavos por bushel, contrato novembro. Essa é a segunda semana de alta, somando 70 centavos por bushel.
O Crop Tour da Pro Farmer chegou ao fim, trazendo uma contagem de vagens levemente acima da média de 3 anos, provavelmente devido ao clima mais benéfico no final de julho para agosto.
A onda de calor dos próximos 10 dias e zero chuvas vai cobrar seu pedágio? Muito calor nessa fase pode trazer vagens vazias e grãos mal formados, o que vai refletir no peso final.
BOLSAS CHINESAS: O CSI300 encerrou mais uma semana em queda, a 3ª seguida. O destaque ficou para o setor de consumo. Os chineses continuam avessos ao consumo, preferindo economizar e antecipar parcelas de financiamento.
As empresas continuam reduzindo os estoques, aumentando a pressão deflacionária. Os reguladores chineses contiunuam tentando fugir da armadilha liquidacionista/deflacionária, o que depende diretamente de sua capacidade de reverter o pessimismo das famílias e empresas.
O feriado Golden Week será um importante teste para o setor de alimentos. O feriado se estende do dia 29 de setembro até o dia 7 de outubro.